cantinho do Leitor #5

A hora certa

 Quem sabe em três anos? Ou talvez em apenas um? Pode ser daqui um tempo, tempo suficiente pra você organizar sua vida. Tempo suficiente pra eu conseguir me estabilizar. Nós só precisamos de um pouco de tempo, pra tudo se organizar, tudo tomar seu lugar, e você finalmente poder vim me abraçar, e ter o seu lugar ao meu lado.

 Assim até parece fácil, como se fosse só esperar os dias passarem e perceber que tudo se organizou. Mas não é assim. Você esta aí tentando se ajeitar com sua mãe, e eu pensando em como vou recuperar a nota perdida no último trimestre. Você tem aquele jogo de futebol, que todo time está confiando em você, e eu tenho um curso de inglês que precisa ser bem aproveitado – não quero que minha mãe gaste dinheiro à toa. Você tem um pai problemático pra aprender a lidar, e agora eu tenho seções de terapia toda a quarta-feira. E sabe quando sobra tempo pra gente? Nunca. Eu tento te acompanhar, mais ai você tem que virar na próxima esquina, e eu me vejo continuando em linha reta. E quando você tenta mudar seu caminho, pra me seguir, ou vice-versa, sempre tem algo que nos faz voltar ao caminho normal. O caminho necessário.

 O seu caminho quer  te levar à uma vida melhor em casa, mais confiança em si mesmo, e talvez à aquele intercâmbio pra Irlanda, que você quer tanto fazer. Meu caminho, eu espero, me leva direito ao amor próprio, mais vontade de viver, e talvez à algum lugar com poucas luzes, pra que eu possa admirar as estrelas. Eles não estão tão distantes, mas não é a hora certa. Não pra gente, não pra esse amor acontecer.

 Quem sabe daqui a dois anos, quando você estiver com uma barba rala, com os músculos mais definidos, porque finalmente teve um tempo pra fugir do caos da sua casa, com o cabelo em um corte diferente, se preparando pra faculdade de Direito, e com os olhos mais verdes do que nunca. Quando eu estiver mais feliz, mais segura de mim mesma, com o rascunho de um livro salvo no computador, o cabelo natural, provavelmente com uns quilos a menos, mas de forma saudável, prometo. Quem sabe daqui a cinco anos, quando eu estiver viciada em usar o cabelo em uma trança lateral, e você estiver voltando a surfar com seu melhor amigo.

 Vai ser como no cinema, não porque será épico, ou com um belo por do sol de fundo, mas porque será importante pra o nosso final feliz. Eu vou estar na praia, apesar de odiar a areia, com um caderno em uma mão e a caneta em outra, uma bolsa pequena colocada no ombro. Sentada no ponto onde o sol não me atrapalhe, e que apenas o mar seja minha inspiração. Você vai estar ocupado, rindo dos amigos que caíram na onda, e vai olhar para o horizonte e apenas descansar sob a prancha, como gosta de fazer. Eu estarei agradecendo mentalmente pela trança em meu cabelo, que não deixa o vento jogá-lo no meu rosto, e nessa hora você irá se despedir dos seus amigos, e sairá do mar. E no meio do caminho, eu vou ver você.  E você vai me ver. E como dizem, vai ser em câmera lenta.

 Aquela sensação, aquela satisfação, aquela certeza de que valeu a pena, guardar um lugarzinho na nossa vida, no nosso coração, pra tantos sentimentos que surgiram na hora errada. E tudo, simplesmente, irá parecer certo. Sabe por quê? Porque será a hora certa.

Texto feito por Marana Vitoria 


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