Esse texto vai além de 13 Porquês...


  Uma leitora do blog, me procurou e disse que queria compartilhar um texto dela, algo pessoal. De inicio achei a ideia um pouco complicada, porque o conteúdo pode ser doloroso a quem lê e se identifica. Mas bem sabemos que infelizmente esse tipo de situação acontece muito, e o momento é um dos mais oportunos pra aprendermos que nossas atitudes podem sim magoar e ferir muito outra pessoa.

  O texto a seguir contém assuntos dolorosos, então se sentir desconfortável não continue a leitura.




Obs: O Texto a seguir não se trata em momento algum de uma análise social vista de forma critica, as ideias expressadas são apenas um desabafo de uma leitora que decidiu compartilhar com os leitores sua experiência.

  Meu nome não é Hannah. Eu não sou uma pessoa inventada por um autor para exemplificar o que acontece, eu sou real. Tão real quanto você que está lendo isso agora. Eu não cometi suicídio, eu não deixei fitas por aí contando o que me aconteceu. Na verdade eu nunca disse nada. Mas agora, depois de tanto tempo eu sinto que posso, e preciso dizer. Porque isso não cabe mais dentro de mim.     E eu não estou contando isso pra ninguém ter pena de mim ou para que os culpados se sintam mal, eu estou contando isso porque não aguento mais guardar pra mim o que aconteceu. 
  Minha história não começa no ensino médio... Não. Ela começa bem antes disso, basicamente no dia em que entrei na escola. Sei que ninguém espera por isso, mas crianças podem ser cruéis se elas quiserem. E eu fui uma vítima disso. A menininha que não queria brincar de boneca, eu era a menininha que queria jogar bola, correr e falar de desenhos de menino. Isso era um prato cheio pras brincadeiras e comentários. As meninas não queriam brincar comigo e os meninos não queriam que eu brincasse com eles. Porque eu era menina. E assim começou o isolamento. As outras crianças passavam por mim apontando e rindo. Algumas até me agrediam com tapas e beliscões. Mas eu tinha que aguentar calada, porque eu era a esquisita. 
  Quando saí da primeira parte do ensino fundamental eu já era uma menina isolada, vivia enfiada em qualquer canto onde ninguém além de mim pudesse me achar. Me acostumei com o silêncio e torcia todos os dias pra que chegasse o dia em que aquilo iria melhorar. Mas não melhorou.
Se eu achava que as crianças eram cruéis, eu ainda não conhecia os adolescentes. 
  Eles sabiam exatamente onde te atingir. Brincavam com meus sentimentos, com os meus gostos, com a minha aparência.... Com quem eu era. Destacando os meus defeitos e me fazendo acreditar que eu não valia a pena. Que eu não tinha nada de bom. Que eu nunca faria nada certo... E esses comentários foram me afetando tanto que eu me tornei uma pessoa complexada com tudo. Com a minha aparência, com o meu corpo, com os meus gostos, com o meu cabelo... Eu passei a ter vergonha de quem eu era. E fui me escondendo. Andava sempre com o cabelo preso, para não verem os meus cachos. Passava muita maquiagem pra esconder o meu rosto. Usava roupas longas pra esconder o meu corpo. Não falava com ninguém, pra esconder os meus gostos... 
  Mas foi além disso, muito além disso. Eu me tornei outra pessoa pra tentar agradar pessoas que eu nunca agradaria. E eu comecei a tomar aquelas coisas como verdade. Eu sou feia. O meu cabelo é feio. O meu corpo não deveria ser assim. Eu tenho que mudar. Eu não posso gostar dessas coisas. 
  E depois de um tempo passei a me boicotar. 
  Parei de escrever, parei de procurar o amor, parei de tentar fazer as coisas que eu gostava. Qual era o ponto de tentar se nada daria certo? E quem iria se interessar por mim? Eu aceitei que seria uma Maria Ninguém. Que nunca teria nada do que eu queria e sonhava... E me acomodei. Porque as pessoas tomaram de mim tudo que eu tinha, até os meus sonhos e a vontade de sair do quarto e viver a vida. No lugar sobrou um vazio, a tristeza, a depressão, a ansiedade...
 O tempo passou, eu lutei para melhorar, mas as pessoas fizeram um ótimo trabalho em me fragmentar, e agora cada dia é uma luta torturante... Cada vez que eu consigo levantar da cama e agir é uma vitória pra mim, mas é um esforço quase desumano... Porque eu simplesmente fui muito danificada pelas ações de outras pessoas. Pessoas que não sabiam, ou ignoravam, o fato de que as ações delas eram direcionadas a outra pessoa, uma pessoa com sentimentos, e que tudo que elas diziam e faziam, porque o fato é que as agressões não eram apenas verbais, me afetava. 
  E hoje em dia, a maioria deles está por aí, caminhando pela rua como se nada tivesse acontecido, e eu estou aqui, lutando para não perder a pouca vontade de viver que restou...
Portanto, eu só peço que você reflita muito bem antes de fazer ou dizer qualquer coisa pra alguém, porque pessoas não são objetos, e elas se machucam de verdade, mesmo com coisas que possam parecer bobas pra você. Não julgue o sofrimento alheio. Você nunca sabe o impacto que uma pequena frase pode ter na vida do outro.


A autora do texto preferiu se manter anônima.


Obs: O Texto acima não se trata em momento algum de uma análise social vista de forma critica, as ideias expressadas são apenas um desabafo de uma leitora que decidiu compartilhar com os leitores sua experiência.

9 comentários:

  1. Oii
    Seu texto realmente mexeu comigo, eu não sei para qual religião acredita ou em qual Deus, mas nunca mais se sinta só, tudo na vida é questão de caráter e perdão, nunca guarde rancor de ninguém, mesmo com tudo o que falam ou fazem com atos feios, apenas acredite em Deus, pedir ajuda para ELE é uma das melhores coisas a fazer, não se sinta presa por ser diferente, ou gostar de gostos diferentes, ignore-os, sei que não é fácil, mas tente. Deus ensinou a perdoar, e não levar o rancor, Deus ensinou a amar o próximo, mesmo eles não nos amando. Não sei como é passar por isso, acredito, assim como você disse, ser horrível. Não mude por outras pessoas, se sinta confortável do jeito que é, não tenha vergonha, e nunca brinque com a vida, não sei quem é você e pelo que aprendi até hoje, se entregue a Deus, só ELE sabe o que passamos, só ele pode nos ajudar, só ELE, mesmo com nossos milhões de defeitos, aceita a gente como somos. Mude sua vida do jeito que quiser, sei como doí apenas uma palavra alheia, mas ignore, e aprenda a perdoar, mesmo depois de tudo, mesmo com tudo acontecendo. Perdoe de coração. Nunca mais se sinta danificada pelas ações de pessoas, com isso, você vence com a vida. Parabéns!
    Gostei muito desse post, é bom se abrir. Adorei!
    Um grande abraço;**
    http://FebredeLivro

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  2. Olá, tudo bem?
    Em primeiro lugar sinto muito por tudo o que você passou. É lamentável e doloroso saber que qualquer pessoa tenham que passar por situações assim, em especial crianças.
    Parabéns por ter vencido, por ter saido disso viva.
    Que seu futuro seja repleto de alegrias e que você possa vencer todas essas lembranças ruins com outras muito melhores.

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  3. É, no livro tem uma parte que diz que nunca sabemos o real impacto que causamos na vida dos outros. Isso é verdade. Mas infelizmente pessoas que não estão nem aí sempre existirão, e teremos de lidar com isso da melhor forma possível.

    ;*

    P.S.: acho que conheço a autora desse texto...

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  4. que texto intenso e tão real, cru... infelizmente muitas pessoas se identificam com esse relato... o quão cruel podemos ser com outras pessoas...falta empatia, sobra excesso de querer alimentar o ego...

    espero que essa pessoa supere tudo isso...

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  5. Olá,
    Sei muito bem como crianças podem ser cruéis, pois vivenciei algo parecido no meu ensino fundamental.
    Não me interessava pelas brincadeiras que achava idiotas das meninas e queria brincar de correr e jogar bola com os meninos, talvez por eu ter um irmão mais velho e sempre nos divertirmos juntos. Minha mãe nunca fez distinção do que é brincadeira de menino e de menina, sempre deixou que escolhêssemos nossos caminhos e as meninas me zoavam muito.
    Mas no ensino médio isso mudou um pouco e na realidade as meninas queriam era trocar de lugar comigo porque queriam ficar mais próximas dos meninos e não conseguiam interagir, afinal eramos a turma do fundão que jogava truco e elas tinham características bem diferentes querendo falar de batons e meninos rsrs
    É muito doloroso e tenho que concordar que ninguém deve julgar o sofrimento do outro, mas sim abrir os olhos e tomar cuidado com atitudes e palavras, pois podem fragmentar alguém também.

    LEITURA DESCONTROLADA

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  6. Uau! Eu vou ser bem sincera, esse texto mexeu muito comigo. E infelizmente muitas pessoas se identificam muito com ele.
    Eu só torço para que a autora do texto consiga se manter forte e superar isso a cada dia.

    Bjs!

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  7. Oie
    uau que texto mais interessante, eu ainda não vi a série mas sei bem do que fala até pq ja li o livro e to tema sempre me chamou atenção, adorei a forma que vc abordou o assunto por aqui

    beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  8. Você e suas postagens de impacto e de amor. AMO! Esse post é importantíssimo, só mostra como acontece de verdade. Ainda agora falei em outro post: o mal das coisas é que só quando uma série como essa aparece que as pessoas se dão conta do mal que fazem sob a desculpa de brincadeirinhas de mau gosto. Na minha época de adolescente, eu levava na zoação, mas ficava sentida. Depois, graças a Deus, cresci, enfrentei, aprendi a me amar. Bom, aprendo a cada dia. Belo texto!

    Carolina Gama

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  9. Oi Paac, sua linda, tudo bem?
    Esse desabafo me fez chorar. Eu senti nessas palavras todo o mal que foi feito a ela. Isso é muito negativo. Pessoas abusivas possuem o mesmo padrão, elas minam a autoestima das pessoas. É aqui que não podemos permitir que elas entrem. Não podemos, como ela mesma disse, nos tornarmos a pessoa que dizem que somos. Não podemos acreditar neles. Infelizmente existe o mal no mundo. A única coisa que posso dizer é: tenha fé. Tente não olhar mais para trás, essas pessoas não exitem mais na sua vida, deixe elas irem embora. Recomece, renasça.
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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