O Lustre, por Clarice Lispector



Nome: O Lustre
Autor (a): Clarice Lispector
Editora: Rocco
Ano: 2009
Páginas: 272
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Sinopse: Em O lustre, trafega-se, a maior parte do tempo, pelo mundo interior da protagonista, Virgínia, desde sua infância em um remoto vilarejo do interior até a vida adulta numa cidade grande e solitária. Clarice não permite ao leitor ter completo acesso ao que se passa do lado de fora — a não ser na crua e, talvez, surpreendente cena final. No universo subjetivo da escritora, a única clareza está nos sentimentos. Virgínia ama seu irmão, Daniel, sua alma gêmea, seu senhor. Virgínia ama seu amante, Vicente, a quem conhece tão pouco... A história é contada como num jogo de luzes e sombras, cada parágrafo permitindo apenas antever, de relance, a força sufocante de tanto amor. 




   O significado de uma obra pode variar devido a subjetividade do ser humano. Muita coisa depende de nossa percepção. Essa percepção pode mudar ao longo de nossa existência. E a nossa existência, os dias vividos, trazem maturidade, que traz ressignificação. Mas isso não é uma regra geral.

   Clarissa Pinkola Estés, em seu mais celebre livro, Mulheres que correm com os lobos, afirma: “Desde o instante em que nascemos, há dentro de nós um impulso selvagem que deseja que nossa alma conduza nossa vida, pois o ego é limitado na sua capacidade de compreensão. Imaginemos o ego preso a uma rédea permanente e relativamente curta; ele só consegue penetrar até certo ponto nos mistérios da vida e do espírito”. Pode-se dizer que o mesmo ocorre com o processo de leitura, ela se materializa até onde os nossos limites alcançam, considerando que leitura é um ato cognitivo político. Mas isso também não é uma regra geral.

   Logo, quando minha alma estabelece conexão com o que leio, um processo dialógico surge, mesmo, por vezes, sendo confundida pelo ego.  Portanto, discorrer sobre qualquer obra de Clarice é abrir os meandros de minha alma, até onde minha maturidade alcançar. Talvez, agora, os motivos de tantas releituras façam sentido...

 ‘De Granja Quieta até a cidade, Virgínia recria seu mundo. A sofrida trajetória da menina-mulher e suas descobertas ora ampliam, ora reduzem o significado dos gestos, detalhes, nuances, palavras. Clarice Lispector, com este romance, vem delinear a existência dentro do conflito humano. A atualidade da história salta aos olhos através das constâncias e inconstâncias da vida.’

   Há duas semanas tento iniciar esse texto, um livro que nos faz olhar pra dentro e reler nossa própria história. É relativamente uma vivência curta, somente trinta anos, mas com algumas histórias para contar, algumas felizes, outras, nem tanto. E aquelas que preferia esquecer e enterrar num lugar onde nem eu tivesse acesso. Mas, como anular as cicatrizes?

   Virginia, personagem central de O Lustre, sempre desejou um lugar que fosse seu. O sonho de infância era deixar a Granja Quieta, onde nasceu, mas, precisamos ter cuidado com o que desejamos. A construção da personagem Virgínia entre criança e sua vida na cidade marca a solidão de uma menina-mulher que não pode ser definida com estereótipos. Virgínia poderia ser qualquer um de nós e para compreender essa relação, é importante ter resiliência. 

   Alguns objetos, ou símbolos, perambulam pela obra, indo e vindo; proporcionando ao leitor a sensação de caos e cosmo. O Lustre, por exemplo, aos meus olhos, funcionou como o cosmo, a paz e felicidade que ela tanto almejava. O Trem, por sua vez, o objeto de transição, ou mesmo o portal, entre o passado e presente. Entre sua vida no interior e sua vida na cidade grande. Não vou me estender numa análise, inclusive por acreditar que cada um deve entender a sua maneira. Afinal, ler O Lustre, leva ao leitor participar do enredo e sentir muitas vozes.

   Para quem nunca leu Clarice, sugiro que inicie com os contos, crônicas e os livros infantis: Como nasceram as estrelas; Do Rio de Janeiro e seus personagens - Crônicas para jovens; O mistério do coelho pensante e outros contos; Aprendendo a viver - Crônicas, etc.







5 comentários:

  1. Oi, tudo bem?
    Que resenha incrível! Dá para ver o quanto essa leitura foi importante para você.
    Da Clarice, eu só li Como nasceram as estrelas, que ganhei quando era criança. Confesso que ainda não sinto vontade de ler outras obras dela, apesar de saber da sua importância para a literatura. Acho que é uma questão de momento.
    Futuramente, pretendo conhecer melhor o trabalho dela e vou seguir sua dica de ler primeiro os contos e crônicas.
    Beijos!

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  2. Oi, tudo bem?

    Tenho que valorizar e conhecer mais as obras literárias brasileiras tem muita coisa boa por aqui também. Esta em especial, obrigada pela indicação e resenha.

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  3. Já li A hora da estrela e gostei muiiito. Não sei porque nunca mais li algo da autora, acho que foi falta de oportunidade mesmo. Adorei saber mais sobre essa obra, fiquei com vontade de ler.
    beijos

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  4. Oii tudo bem ?
    Nossa não conhecia a obra e fiquei bem intrigada, confesso que se eu tivesse visto só a capa n tinha me interessado depois de ter lido a resenha parei pra pensar meu Eu preciso ler esse livro pra ontem.

    Bjs

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  5. Olá, tudo bem? Nunca li nada da autora, porém sempre ouvi diversos elogios. Pela sua resenha posso ver mais alguns, e o quanto você se conecta com ela. Adorei, principalmente as dicas de onde começá-la a ler. Anotado <3
    Beijos,
    https://diariasleituras.blogspot.com

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