Garotas Mortas, por Selva Almada

 



Antes de tudo: Doloroso. Como mulher sei das experiências e vivências de ser uma mulher, sobretudo o que isso significa ao falarmos de liberdades e corpos, mas principalmente ao se falar de violência...

Feminicídio, uma palavra que ganhou conhecimento e espaço a pouco tempo, um tempo curto demais pra englobar os casos que Selva destrincha, investiga e denuncia em sua obra. A história de três garotas mortas, três feminicídios não resolvidos, três vidas perdidas que são ‘apenas’ outras mulheres mortas, três vidas perdidas que foram esquecidas pela justiça, mas não por suas famílias e amigos, e não por Selva Almada.


“Eu não sabia que uma mulher podia ser morta pelo simples fato de ser mulher, mas tinha escutado histórias que. Com o tempo, fui ligando umas às outras. Casos  que não terminavam com a morte da mulher, mas em que ela era objeto da misoginia, do abuso, do desprezo.”

 

Realizei a leitura desta obra pelo #Projeto de Leitura Feminista, a última leitura do projeto no ano de 2021, e preciso dizer que essa leitura teve um peso quase teórico em mim, mesmo sendo sobre experiências, principalmente da investigação feita pela autora eu senti que cada garota morta tinha partes de outras garotas e mulheres, eram pessoas comuns, mães, filhas, trabalhadoras, sonhadoras que tiveram suas vidas retiradas pelo simples ato da violência, pela ideia de poder sobre o corpo feminino. Doloroso define a sensação de cada página lida por transporta cada leitora a essa sensação que vivenciamos o medo e receio de ser a próxima ou de viver essa dor por meio de alguma mulher de nosso afeto.

 O que seria necessário para a mudança dessa violência tão creditada como ‘’normal’’? Como ficam as pessoas de rede de afeto das garotas mortas? Até quando o feminino em nós será morto e dilacerado? Até que ponto finalmente iremos vivenciar nossa liberdade?


“Talvez seja esta a sua missão: recolher os ossos das garotas, armá-las, dar-lhes voz e depois deixa-las correr livremente para onde tiverem que ir.’’

 

La Huesera, La Loba, uma história do feminino que habita em cada uma de nós, é citada aqui não somente como nossa protetora mas também aquela que recolhe os ossos de garotas mortas para dar-lhes finalmente voz e liberdade.

           Garotas Mortas toca no ínfimo da dor das mulheres, investigando e instigando as respostas a mortes que estão não somente relacionadas ao poder que se coloca diante do corpo feminino, mas das questões sociais, culturais e politicas em que esses corpos, mulheres e garotas pertencem. 






10 comentários:

  1. Muito bom encontrar um livro que trate de um assunto tão necessário de se falar sobre! O número de feminicídio no Brasil aumentou ainda mais na pandemia, e saber que a sociedade se preocupa mais em falar de uma mulher que está se divertindo do que falar de uma mulher que está sofrendo violência, monstra o quão tóxica e machista essa sociedade ainda é. O quanto a violência doméstica ainda é de certa forma "normalizada" passado o pano e uma mulher ser dona do próprio corpo e da própria vida é visto como "absurdo".

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    1. nós mulheres devemos sempre ler sobre, saber sobre,e falar sobre pra ninguém esquecer.

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  2. Caramba, essa deve ter sido mesmo uma leitura emocionante. Nós mulheres sabemos o fardo que carregamos pelo simples fato de sermos mulheres. Fardo esse que não deveria ser um fardo, mas se torna, diante de tantas atrocidades que vemos ainda nos dias de hoje, quando estamos tão evoluídos em certas coisas. E essa se faz uma leitura necessária para todos nós, principalmente, uma homenagem a tantas mulheres que não tem justiça feita por elas, nem depois de mortas tão brutalmente. =/
    Bjks!

    Mundinho da Hanna
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  3. Eu compreendo a importância de uma obra desse calibre nos dias turvos que vivemos. Só que tenho certeza que esse é um tipo de leitura que eu não daria conta. Algumas coisas eu simplesmente não consigo.
    Grande abraço

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    1. é uma leitura bem pesada eu fui lendo e sofrendo pensando em como é real.

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  4. Oi, tudo bem? Não conhecia o livro mas achei a proposta bem interessante. Realmente é um tema que podemos trazer à luz para debate principalmente pela sua profundidade. Um abraço, Érika =^.^=

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  5. Leituras do tipo geralmente me deixam desconfortável, mas ainda assim eu arrisco ler. Tá na minha lista.
    E ainda ter gente escrota que desdenha do feminicidio, tentando minimizar o problema...

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