A mãe de todas as perguntas, por Rebecca Solnit


Nome: A Mãe de Todas as Perguntas - Reflexões Sobre os Novos Feminismos
Autor (a): Rebecca Solnit 
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2017
Páginas: 200 
Skoob: Adicione 

Sinopse: Rebecca Solnit é hoje uma das principais pensadoras do feminismo contemporâneo. Autora do famoso ensaio que deu origem ao termo mansplaining, que veio revolucionar o vocabulário das discussões sobre gênero, sua obra é leitura obrigatória tanto para as pessoas mais experimentadas no tema quanto para aqueles que desejam se iniciar em um dos principais debates da sociedade atual. Em A mãe de todas as perguntas, Solnit parte das ideias centrais de maternidade e silenciamento feminino para tecer comentários indispensáveis sobre diferentes temas do feminismo: misoginia, violência contra a mulher, fragilidade masculina, o histórico recente de piadas sobre estupro e outros mais. Cristalinos e contundentes, seus ensaios devolvem ao tema toda a gravidade ele merece, sem abrir mão da poesia e do humor característicos de sua escrita.


   No livro A mãe de todas as perguntas – Reflexões sobre novos feminismos, Companhia das Letras, a consagrada autora Rebecca Solnit traz o silêncio como uma das respostas ou como adoecimento social, afinal, a certeza que temos do machismo e suas nuances é o adoecimento social entre tantas outras consequências nocivas.

“ Por voz não me refiro apenas à voz em sentido literal – o som produzido pelas cordas vocais nos ouvidos dos outros –, mas à capacidade de se posicionar, de participar, de se experimentar e de ser experimentado como uma pessoa livre com direitos. Isso inclui o direito de não falar, quer seja o direito de não ser torturado para confessar, como no caso dos prisioneiros políticos, quer seja o direito de não ter de atender a desconhecidos que nos abordam, como alguns homens procedem com as moças, exigindo atenção e lisonjas e punindo-as quando não as recebem. A ideia de voz ampliada para a ação abrange amplos setores de poder e falta de poder.”

   A obra está dividida em duas partes – Rompeu-se o silêncio e Rompeu-se a história – para explicar temas antigos e atuais como por exemplo piadas sobre estupro. Para mudar a história, primeiro, precisamos acabar com o silêncio que mata mulheres, educa homens violentos, assassinos e estupradores, adoece o meio ambiente. Neste caso, portanto, a autora não se refere ao silêncio como uma quietude necessária em busca de tranquilidade, serenidade e introspecção. O silêncio que ela esmiúça no livro é aquele provido pela repressão.

   No capítulo ‘Uma breve história do silêncio’, Rebecca explica como o silêncio é uma arma para desumanizar as mulheres e como é extenso o número das que não são ouvidas: a mulher, a pobreza, a mulher negra, a mulher Latina. Desencadeando num ‘canibalismo narrativo’.

 “O Silêncio foi o que permitiu que os poderes atacassem ao longo de décadas, sem impedimentos. É como se as vozes desses homens públicos importantes devorassem e aniquilassem as vozes dos outros, num canibalismo narrativo. Tiraram-lhes a voz para recusar e lhes infringiram histórias inacreditáveis. Inacreditável significa que os poderosos não queriam saber, ouvir, acreditar, não queriam que eles tivessem voz. As pessoas morriam por não serem ouvidas. Então algo mudou.”

   ‘As pessoas morriam por não serem ouvidas’ infelizmente, as pessoas ainda morrem por não serem ouvidas, é o caso, por exemplo, da mulher que cometeu suicídio e deixou em seu diário o relato dos abusos sofridos pelo tão conhecido Médium João de Deus. Entretanto, ‘Então algo mudou’, mais de trezentas denúncias de mulheres que sofreram abuso sexual desse mesmo homem foram registradas, ouvidas aceitas, para algumas, tarde demais, para outras, a possibilidade de recuperar a voz e como a humanidade.

 “Boa parte do feminismo consiste em mulheres expondo experiências até então não reveladas, e boa parte do antifeminismo consiste em homens lhes dizendo que essas coisas não acontecem (...) “Você não foi estuprada”.

   No livro, a autora utiliza outros exemplos envolvendo famosos e figuras de autoridade e como suas vítimas foram silenciadas, como no caso de Bill Cosby e seus estupros em série. Com o rompimento do silêncio, um mar de histórias sai de debaixo do tapete e começam a mudar histórias pelo mundo.

 “Se o direito de falar, de ter credibilidade, de ser ouvido é uma espécie de riqueza, essa riqueza agora vem sendo redistribuída. Por muito tempo houve uma elite com audibilidade e credibilidade e uma subclasse de destituído de voz.”

“Quem é e quem não é ouvido define o statu quo”, em referência a autora, podemos pensar nos povos originários, mais conhecidos como povos indígenas. Nos últimos dias, algumas aldeias foram invadidas por ruralistas e fico a pensar no silêncio que esse povo vive agora, as mulheres, crianças e sim, os homens indígenas. A autora traz como referência, no entanto, como o Movimento Sufragista excluiu mulheres negras.

   No capítulo ‘Todo homem é uma ilha: o silêncio masculino’ Solnit traz um tema que às vezes não tem o espaço merecido. Sim, o patriarcado também adoece homens quando desde criança são privados de sua integridade emocional. Um caso recente disso, no Brasil, foi na última semana quando Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves, afirmou que seria ‘terrivelmente cristã’ e ‘menino veste azul e menina veste rosa’.

   A partir dessa ideia, nasce uma distinção pelo ódio, os meninos desde cedo aprendem a odiar e repudias o que é imposto para meninas e os meninos desde cedo, são silenciados e esse contexto dá cria a dois outros monstros, segundo Rebecca “A misoginia e a homofobia são, ambas, formas de odiar o que não é patriarcado”.

 “A masculinidade é uma grande renúncia. O cor-de-rosa é apenas uma miudeza, mas meninos e homens bem-sucedidos renunciam a emoções, à expansividade, à receptividade, a todo um conjunto de possibilidades na vida cotidiana, e homens que ocupam áreas masculinas – esportes, Forças Armadas, política, trabalhos exclusivamente masculinos como construção ou extração de recursos minerais – muitas vezes ainda precisam renunciar a outras coisas mais. (...) Ou seja, o silêncio é uma força difusa, distribuída de diferentes categorias de pessoas. Ele subjaz a um statu quo que depende de uma homeostasia de silêncios. “

   Durante os dozes ensaios que compõem a obra, Rebecca constrói uma teia de diversos aspectos da sociedade que estão interligados pelo patriarcado. A presença das mulheres na literatura, política, questões de raça, igualdade de gênero e obviamente, não é possível deixar de lado, classe social, mansplaining, etc.

   Rebecca Solnit é hoje considerada uma das grandes vozes do feminismo no mundo, seu trabalho amplamente reconhecido, a julgar os nossos dias sombrios, são urgentes e necessários. Rompemos uma pequena estrutura do patriarcado e de forma lenta, começamos a ter voz, melhor dizendo, Vozes. Não podemos voltar par ao armário, não podemos voltar para cozinha e principalmente, não podemos aceitar que nenhuma ‘princesa’ seja assassinada ou estuprada por um ‘príncipe’ de azul.





5 comentários:

  1. Esses dias vi alguns comentários sobre esse livro e gostei bastante das reflexões levantadas. Acho o tema relevante, desde que não seja extremista.

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  2. Olá, eu preciso confessar que leio muito pouco sobre o assunto, algo que preciso mudar em breve, adorei sua resenha e dica de leitura, é uma obra singular e necessário em meu ponto vista, vou procurar mais a respeito!

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  3. Eu não conhecia esse livro e estou totalmente encantada com a premissa do mesmo! E isso realmente acontece, sabe? Piadas sobre estupro, mulheres que se calam por medo... acho que devemos ter voz para enfrentar todos esses problemas que rondam a nossa sociedade. Achei sua resenha ótima e já anotei a dica!

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  4. Olá,
    Interessante o debate com questões atuais, creio que fica melhor para reflexão e também para conhecer mais sobre o assunto. Não tinha lido nenhuma resenha do livro e agora o livro parece ser mais interessante.

    Debyh
    Eu Insisto

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  5. Que publicação interessante e necessária! Já preciso de um exemplar! Realmente, o silêncio, o silenciamento pode ajudar a perpetuar a violência e o machismo, é super importante abordar esse tema. Ótimo post!

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