O Conto da Ilha Desconhecida, por José Saramago



Nome: O Conto da Ilha Desconhecida
Autor (a): José Saramago
Editora: Companhia das Letras
Ano: 1997
Páginas: 64
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Sinopse: Um homem vai ao rei e lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O rei lhe pergunta como pode saber que essa ilha existe, já que é desconhecida. O homem argumenta que assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas.
Este pequeno conto de José Saramago pode ser lido como uma parábola do sonho realizado, isto é, como um canto de otimismo em que a vontade ou a obstinação fazem a fantasia ancorar em porto seguro. Antes, entretanto, ela é submetida a uma série de embates com o status quo, com o estado consolidado das coisas, como se da resistência às adversidades viesse o mérito e do mérito nascesse o direito à concretização. Entre desejar um barco e tê-lo pronto para partir, o viajante vai de certo modo alterando a idéia que faz de uma ilha desconhecida e de como alcançá-la, e essa flexibilidade com certeza o torna mais apto a obter o que sonhou.
"...Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós...", lemos a certa altura. Nesse movimento de tomar distância para conhecer está gravado o olho crítico de José Saramago, cujo otimismo parece alimentado por raízes que entram no chão profundamente.





   A peculiaridade de O Conto da Ilha Desconhecia, de José Saramago, é assunto pra mais de metro. Apesar de ser um texto curto, seu aspecto ímpar ganha vida na gama de possibilidades que a obra estende sobre o leitor.

‘O Conto da Ilha Desconhecida - Um homem vai ao rei e lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O rei lhe pergunta como pode saber que essa ilha existe, já que é desconhecida. O homem argumenta que assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas. Este pequeno conto de José Saramago pode ser lido como uma parábola do sonho realizado, isto é, como um canto de otimismo em que a vontade ou a obstinação fazem a fantasia ancorar em porto seguro. Antes, entretanto, ela é submetida a uma série de embates com o status quo, com o estado consolidado das coisas, como se da resistência às adversidades viesse o mérito e do mérito nascesse o direito à concretização. Entre desejar um barco e tê-lo pronto para partir, o viajante vai de certo modo alterando a ideia que faz de uma ilha desconhecida e de como alcançá-la, e essa flexibilidade com certeza o torna mais apto a obter o que sonhou. "...Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós...", lemos a certa altura. Nesse movimento de tomar distância para conhecer está gravado o olho crítico de José Saramago, cujo otimismo parece alimentado por raízes que entram no chão profundamente.’

   Um homem vai até a porta dos pedidos solicitar ao Rei um barco para chegar à Ilha desconhecia; o pedido não é simples, afinal, ele discorre sobre algo que não está nos mapas e não tem como provar que existe. Porém, não é hábito do Rei ‘trabalhar’ e quem acaba por atender a porta dos pedidos é a Mulher da limpeza, que além de limpar e atender a porta, faz outras coisas... como costurar!
Nada satisfeito, o homem exige a presença do Rei, pode parecer ousado, mas ele fica alguns dias acampado frente a porta dos pedidos à espera de ter seu desejo atendido. Por fim, o Rei finalmente cede e dá ao Homem o barco que tanto almeja. Mas essa é só uma pequena parte da história, que de poucas páginas, tornou-se Grande!

  Apesar da aparente fragilidade e superficialidade do texto, eis que ai se esconde o ‘não dito’ que torna-se mais que evidente. As questões sociais, psicológicas, filosóficas e linguísticas criam forma gigantesca no que aparenta ser simples. As primeiras linhas apresentam questões como: Hierarquia, crítica a classe dominante, burocracias, exploração. Também na obra há oito reproduções de aquarelas que nos faz adentrar numa análise Semiótica entre o texto verbal e não verbal.

   O homem, na verdade, queria mais que uma ilha desconhecia, estava à procura de si mesmo. A maneira como ele tenta velejar o próprio barco da vida é que vai se esbarrado em excesso de racionalidade e burocracias, as mesmas que nas primeiras páginas da obra, ele soube veementemente criticar.

‘A casa do rei tinha muitas portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldabra de bronze se tornava, mas do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar.’

   Sobre a linguagem muito bem construída, não há como não recordar de Mikhail Bakhtin e o sentido ideológico contido na literatura. As vozes sociais presentes no texto materializam todo um contexto sociocultural a ser apreciado pelos leitores.  O livro é rico de diversas maneiras e não é para ser lido uma única vez, tão pouco duas, é aquele que lemos e relemos todos os anos, até, todo mês quem sabe... Acho que deu para entender o quanto eu gosto do autor e como é tão superficial discorrer sobre O conto da ilha perdida numa simples resenha, em poucas linhas. O livro exige um estudo mais profundo uma apreciação mais cautelosa. Mas, foi tão gostoso relembrar do período que li o livro, de como foi para tê-lo em mãos, o que fiz no dia que o comprei. Lembrar do debate na época de faculdade. Essa coluna releituras, para mim, tem gosto, cheiro, toque e requinte de saudade... 






2 comentários:

  1. Olá Lilian! Ainda não conheço a escrita do autor, mas tenho bastante curiosidade. Sua resenha deixou clara que é uma leitura importante que deve ser feita. Livros para refletir e fazer uma ponte sobre o comportamento humano são os meus favoritos e me ganham fácil. Gostei das suas impressões.

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  2. Oi, Lilian! Li o conto há pouco tempo e escrevi sobre ele lá no blog…:
    “Esse livro me lembrou de Eros e Psiqué, do Fernando Pessoa. E mais: “Navegar é preciso; viver não é preciso”. Enquanto a vida é limpar o castelo, receber homenagens, fazer pedidos, esperar sua vez na fila, alguém acredita que existe o desconhecido que vale a pena buscar. Para encontrar a ilha, é preciso navegar, sair de si, do seu lugar. Se o viajante ficar preso a si mesmo nunca vai se enxergar. Criar é preciso. Ninguém sabe o que é a ilha, onde está, até buscá-la, até transformar essa rota no mar incógnito no próprio destino.”

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