
Nome: A Casa dos Budas Ditosos
Autor (a): João Ubaldo Ribeiro
Série: Plenos Pecados #Luxuria
Editora: Objetiva
Ano: 1999
Páginas: 163
Skoob: Adicione
Sinopse: Ao receber, segundo afirma, um pacote com a transcrição datilografada de várias fitas, gravadas por uma misteriosa mulher, o escritor João Ubaldo Ribeiro não podia imaginar o que o esperava.
E o inocente leitor, que sequer pode suspeitar o que o aguarda em cada uma das páginas deste livro. Nelas se conta uma vida. E a suposta autora teria enviado seu testemunho para que fosse utilizado para o volume sobre a luxúria da Coleção Plenos Pecados.
O escritor aceitou o oferecimento e o resultado final está agora diante de você. Que deve preparar-se para um relato pouco comum, às vezes chocante, às vezes irônico, sempre instigante. Na verdade, dificilmente a ficção poderia alcançar os limites do que a devassa senhora viveu e narra em detalhes riquíssimos.
Se o leitor tem alguma dúvida, ela logo se dissipará, neste fascinante mergulho na vida espantosa de uma mulher sem dúvida excepcional, cuja narrativa alcança as dimensões de um retrato sociológico de toda uma cultura e uma geração, envolvendo um dos pecados mais indomáveis, e capitais. A luxúria.
A Casa dos Budas Ditosos, é mais uma obra-prima do autor, onde o foco
norteador é a Luxúria. Quem ainda não conhece o João, nada leu sobre, sugiro
que inicie com Viva o povo brasileiro, de qualidade prazerosa e essencial. Mas,
voltemos ao livro em questão...
‘A Casa dos Budas Ditosos - Ao receber, segundo afirma, um pacote com a transcrição datilografada de várias fitas, gravadas por uma misteriosa mulher, o escritor João Ubaldo Ribeiro não podia imaginar o que o esperava. E o inocente leitor, que sequer pode suspeitar o que o aguarda em cada uma das páginas deste livro. Nelas se conta uma vida. E a suposta autora teria enviado seu testemunho para que fosse utilizado para o volume sobre a luxúria da Coleção Plenos Pecados. O escritor aceitou o oferecimento e o resultado final está agora diante de você. Que deve preparar-se para um relato pouco comum, às vezes chocante, às vezes irônico, sempre instigante. Na verdade, dificilmente a ficção poderia alcançar os limites do que a devassa senhora viveu e narra em detalhes riquíssimos. Se o leitor tem alguma dúvida, ela logo se dissipará, neste fascinante mergulho na vida espantosa de uma mulher sem dúvida excepcional, cuja narrativa alcança as dimensões de um retrato sociológico de toda uma cultura e uma geração, envolvendo um dos pecados mais indomáveis, e capitais. A luxúria.’
A casa dos Budas Ditosos é o relato da vida sexual de uma mulher; sem
romantismo ou camuflagem. Sem puritanismo, visto que a luxúria não permite tal
contraponto. Não tem quatro paredes, certo ou errado. Ubaldo desvela um
universo livre e selvagem, em que a mulher abre a essência sexual de suas
entranhas e diz... diz tudo o quanto ela é capaz e pode realizar em vida.
Também aborda a liberdade sexual da
mulher, em muitos trechos, a protagonista relata como precisou maquiar certas
situações para não ser perseguida ou caluniada. E isso ainda existe, agora, com
a força da internet. Também não era nenhuma ‘santa’, não por fazer sexo, mas
por provocar diversos tipos de situações que a colocavam, em certos momentos,
quase como um monstro. O que também não a deixava sentir culpa ou remorso...
Conservadores podem ter ataque do coração com a obra.
O tom de ironia e sarcasmo rememora em vários momentos o elemento
central psicossexual da personagem. A crítica social é de rir e revirar o
estômago, pertinente e esdrúxula. Orgias, incesto, voyeurismo, sadismo,
masoquismo, feminismo, sodomia etc. não são marginalizados, passam para o
centro das atenções, inquietações e reflexões, além da desconstrução de muitos
estereótipos.
‘Atraso, atraso, vivemos segundo regras e padrões para os quais nenhum ser humano foi feito e, claro, ficamos malucos por isso. Não sei se já falei que encaro com piedade a mulher que diz sincera e proibitivamente “meu negócio é homem, minha filha” e frequentemente, é irrecuperável para uma visão do mundo e uma vida sadias, até porque fortificada por trás de sua muralha de neuroses e crendices. Fico com pena. A bem dizer, fico com pena não só das mulheres como dos homens em condições análoga, fico com pena de todos esses exclusivos de araque. Preferências, sim; exclusividade, jamais.’
Apesar de não recomendar a obra para menores, o livro não é só
sacanagem, gente. Alguns trechos são tão hilários que não contive minha maior e
mais ousada gargalhada durante a madrugada.
“Meu avô materno era aristocrata, elegantíssimo (...), mas, depois que passou de uma certa idade, peidava em público. Assisti a ele peidar na frente do inventor, na época do Estado Novo. (...). Quando minha avó reclamava, ele dizia que o que está preso quer ser solto e todo mundo peidava, inclusive o inventor, então não era ele que, àquela altura da vida, ia arrolhar um peido. Quem quisesse que arrolhasse, mas ele não.”
Norma Lúcia é uma amiga, apresentada quase como uma mestra da Luxúria,
alguém para ser admirada, uma entidade sexual. Lembrada com saudosismo e que de
tanto carinho, merecia um museu ou memorial, coisas do tipo.
A protagonista e narradora, é uma
mulher intelectual, faz citações que há muito não via e outras que sequer
conhecia. Um desses nome é o Pierre Choderlos de Laclos, vi o nome dele num
livro de Linguística (eu acho), há anos, e nunca mais... Ele é francês e sua
obra mais célebre é "As Relações Perigosas". Há trechos em que ela se
expressa numa língua estrangeira, fiquei voando, salvo os que ela explicava...
ainda bem que existe o Google.
O livro, para mim, teve a mesma funcionalidade de um bom Hot. Sim.
Causou o mesmo efeito sensorial. Mas, vou logo advertindo, não quer dizer que
cause em todo mundo, alguns amigos não tiveram a mesma sorte que eu...
‘A casa dos budas ditosos’ é erótico,
libertador, feminino, feminista, machista, difícil, humano, cruel, filosófico,
encantador, divertido, enigmático. Minha vontade era de conhecer a personagem
do livro e conversar com ela... na obra, ela já não é mais jovem, mas suas
palavras têm a força da vida eterna...
Esse é o tipo de livro que simples
resenhas não são capazes de abarcar sua grandiosidade, recomento, para maiores
de dezoito, que leiam, mas abertos e dispostos a desconstruir e desaprender
algumas vezes. A obra teve adaptação teatral com a atriz Fernanda Torres. Nunca
tive o prazer de ver, mas quem sabe um dia...
Reli o livro nesse último fim de semana, junto com Filhos de Lilith, de
Elaine Velasco e O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago,
umas das próximas resenhas do ‘Releituras’. Espero que vocês apreciem essa
coluna semanal, destinada a livros que já apreciei, mas nunca fiz resenha para
o mundo virtual.
Fazer releituras é um hábito constante, com A casa dos Budas ditosos a
sensação é que estava mais madura para a leitura. A primeira vez, eu gostei
muito, mas não existiu a relação sensorial e me parece que deixei escapar
alguns elementos. Outro detalhe é que conseguir fazer ligações intertextuais
bem rápido, os ‘insights’ eram momentâneos ao tempo do trecho lido. Acredito
que o motivo seja que o tempo que se passou, eu li outras coisas, mais
teóricos, minha experiência pessoal aumentou, 2014 não foi um ano fácil, minha
relação com os livros muda diariamente, parafraseando Heráclito, a água que
passa hoje no rio não é a mesma água de ontem, somo fluídos e mutáveis,
nascemos e morremos todos os dias.

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