Cem seres em uma mulher
Mulheres são vestidas de histórias, de memórias.
Tantas delas não contadas, mal ditas.
Tantas vezes caladas, amordaçadas,
Com uma corda invisível.
Mulheres-meninas nos jornais embolorados,
esquecidas.
Meninas-mulheres nos livros não lidos,
adormecidas.
De saia curta ou comprida,
não importa.
Mais uma vítima.
Professora, doméstica, cientista,
Nas estatísticas, mais um dado.
Todas cobertas com o papelão do Estado.
Atravessa muralhas, corre, tropeça,
Cai, se levanta, dança.
Improvisa, canta, falha.
Ser forte todo dia é mais uma utopia:
Uma armadilha.
Mais uma noite acordada, ansiosa, angustiada:
Em vigília. Ser forte não tem nada de romântico
A perfeição também cansa.
Você merece um tempo só seu: descansa!
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Banho de ervas negras
Hoje acordei cheia de cores,
tomei um banho com as rosas
Secas que você deixou.
Meus caracóis dançam com o vento,
Algo em mim, lá dentro, acordou.
Hoje, me olhei no espelho,
Minha pele preta, melanina.
dona do brilho de uma noite fina,
Me vi, me senti, me abracei.
Me lembrei das dores, que só eu sei.
Dos abraços, que eu não dei.
Das vezes que morri e vivi outra vez:
Fui mais forte do que pensei.
Olho para o relógio
Para voltar, não tenho hora.
Nada do que fui me veste agora.
Do reverso, sou inverso, revolução.
Da desarmonia, faço sol, amor, canção.
Viver é por si só uma obra-prima,
Não deixem que calem as cores dentro de você:
Mulher, grite o que é seu por sina.
Sobre a Autora:
(Texto selecionado para o Projeto Leitura Feminista, iniciado 2019, em parceria com o blog Barda Literária que este ano, no mês de março, apoiará poetisas)
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