Projeto Leitura Feminista: Mês da Mulher em Poesias, por Edileusa Souza

 



A ARTE DE SER MULHER



Entraste em mim como uma nódoa, como uma epidemia te alastraste

por todo o meu território e não reclamei.

E fui te amassando como um bolo.

Deixei-me usar porque sou assim:

uma eterna esperança num coração tolo.

Fizeste festa em meu peito vazio, enfim, aceitei as evidências.

Eu precisava de ti como o oxigênio

que o planeta indiferente aspira o quanto quer.

Deixei-me subjulgar porque sou assim:

uma criança com invólucro de mulher.

Chegaste pé ante pé como uma marido infiel.

Bailaste no salão de minha alma

curiosa de vida e pedindo bis

deixei-me ter porque continuo sendo assim:

uma mulher com sonhos infantis.

Agora, vai, deixa-me fugir de ti/de todos/de mim

quero apenas me aquietar em meu corpo tão cansado. Adeus, passado!

Fiques no baú. Quieto e confinado.Usar-te-ei para não pisar em outro terreno minado, porque eu sou assim:

um ser que ama sem se preocupar em ser amado.

Não consigo entender coisa nenhuma, às vezes, coisa qualquer.

A única coisa que não aceito como alcunha

é que me digam que abuso da arte de ser mulher,

pois é, vou ser sempre assim:

onde estiver, caberei sempre no lugar que eu quiser.


_____________________________________________________________________________


A PORTA-BANDEIRA



Mão na cintura.

Os passos, alterna com soltura.

Desliza os pés com beleza.

Balança os quadris com leveza,

deixa o corpo agir

como se fosse morrer na próxima esquina

e a nádega confirma o requebro,

enquanto empina.

Segura um mastro com um pano e símbolo.

É a imagem de sua tribo.

Sente a multidão.

Sorrisos em profusão,

mesmo sem dentes,

os rostos estão contentes.

Do jeito que ela gosta, sempre disposta

e vivendo plenamente.

Quarta cinza tudo volta ao normal.

Salário sem fim de mês, mas não faz mal.

Quem chora é a cuíca, que repica

de alegria.

Esquece a periferia.

Hoje é área nobre. Sofrer é lixo podre.

Faz mesuras com graça. Amanhã passa.

Amanhã é hoje que não veio.

Curte seu sonho de samba com recheio.

Amanhã é operária.

Hoje quer aplausos,

mesmo falsos.

Hoje é só mulher,

forte e firme como outra qualquer.

Amanhã mais um pária

que sobe a favela.

Hoje é bela! Amanhã, a fera.

Carnaval, quando ele chega, nada é mais normal

que feliz ritual!

Madeira que um País pariu.

Terra Brasil.

Porta a bandeira

defendendo uma comunidade inteira.

Importa sua situação financeira?

Tem muito orgulho de ser brasileira.

FIM





Sobre a Autora:

EDILEUZA B. L. LONGO ou EDIH LONGO, é Linguista e Prof.ª de Língua Portuguesa, formada pela USP/SP. Tem também formação teatral e faz parte do Grupo "Arte in Cena" do Clube Paineiras do Morumbi. Além de atriz, é poeta, contista, cronista, romancista e dramaturga. Ganhou prêmios nas modalidades. Atualmente aposentada, dedica-se a adolescentes carentes, ministrando-lhes aulas de Teatro.

Facebook: www.facebook.com/edih.longo
Insta: @45edih_longo_46






(Texto selecionado para o Projeto Leitura Feminista, iniciado 2019, em parceria com o blog Barda Literária que este ano, no mês de março, apoiará poetisas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário, ele fará o autor do post se sentir feliz e correspondido e mais próximo de você que leu até aqui, obrigada e lembre-se: literatura é arte que empodera e liberta! @bardaliterária.

@bardaliterária