Jogadas ao luar
Uma singela homenagem às mulheres da minha vida.
Vez ou outra vêm, intuitivamente, e então eu me doo e enxergo.
Foram mulheres, muitas delas, e todas elas, guerreiras, fortes e feito onça.
Me vestiram, me criaram, me zelaram, me alimentaram.
Todas essas mulheres, guerreiras, fortes e feito onça, todas, me inspiraram.
Mulheres, mulheres.
Vim de um ventre, que antes de ser ventre foi outro ventre e tantos outros.
Aprendizes, anciãs, bruxas, benzedeiras, mães.
Se me desmembrasse e pudesse enumerar, tampouco eu saberia decifrar, que de muitas mulheres eu me fiz criar.
De tantas delas, mulheres guerreiras, fortes e feito onça, sou.
E que cada uma, dessas tantas, que não preciso nomear, esteja presente e cheia de orgulho e prumo.
Pois dessas tantas, fiz de cada, todas elas.
Mulheres, mulheres.
Todas elas, guerreiras, fortes e feito onça.
Que vez ou outra vêm, e eu me deixo, intuitivamente, transbordar.
Não coube no colo, derramou pelo seio, deixou vingar, e dessas raízes tão sólidas,
De cores tão sublimes, me fizeram luar.
Deixou transbordar, e dela a semente, um pouco de gente e uma pitada de mar.
Dessas mães tão ferozes, dessas mulheres tão pobres,
Que do fogo fez a divindade semear.
Que todas elas, muitas delas, tão singelas, me fizeram brotar.
Que não só neste, mas em todos estes e tantos mais; que o dia seja sequer uma pitada de todas elas, mulheres, mulheres, guerreiras, fortes e feito onça,
Jogadas ao luar.
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Tu és arte, mulher
A tela, o traço, a tinta e a mão
O toque, o tato, o abraço e o chão
Solidão
Vieste daquilo que não ousamos falar
Do toque amargo
Do beijo gelado
Daquele luar
A dualidade orgânica
A potência sublime
A interioridade interestelar
Daquilo que não somos,
Para aquilo que não seremos
Vieste de lá
Mas sem hesitar
Calou-te o cão com o seu uivar
Fizeste daqui a tua morada
E o teu coração transbordou o amar
Nem sempre potência
Nem sempre inocência
Da incerteza da vida
Foste o teu andar
Usaste do velho, aquilo que enraizou
Fizeste da trama o teu trançar
Sujaste as mãos
Cortaste o cordão
E daquela lembrança, doce luar
Fizeste da mulher calada
A fala silenciar
E enquanto juntaste todos os cacos despedaçados
Com os pés descalços
Usaste do sangue, tinta para arvorar
E naquele instante, ousaste sonhar
Pois tu és arte, mulher
E puro sonhar
E que tamanha transmutação
Essa de recriar.
Sobre a Autora:
Tudo que sempre quis dizer, mas só consegui agora
https://www.instagram.com/celasalvador/
(Texto selecionado para o Projeto Leitura Feminista, iniciado 2019, em parceria com o blog Barda Literária que este ano, no mês de março, apoiará poetisas)
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