Mulheres que correm com os lobos de Clarissa Pinkola


Título: Mulheres que correm com os lobos
Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem
Autora: Clarissa Pinkola Estés
Editora: Rocco
Páginas: 627
Ano: 1994
Skoob: Adicione

 Sinopse: Sensações de vazio, fadiga, medo, depressão, fragilidade, bloqueio e falta de criatividade são sintomas cada vez mais freqüentes entre as mulheres modernas, assoberbadas com o acúmulo de funções na família e na vida profissional. Esse problema, no entanto, não é recente, acredita a psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estés. Ele veio junto com o desenvolvimento de uma cultura que transformou a mulher numa espécie de animal doméstico.
Através da interpretação de 19 lendas e histórias antigas, entre elas as de Barba-Azul, Patinho Feio, Sapatinhos Vermelhos e La Llorona, a autora identifica o arquétipo da Mulher Selvagem ou a essência da alma feminina, sua psique instintiva mais profunda. E propõe o resgate desse passado longínquo, como forma de atingir a verdadeira libertação.
Técnicas da psicologia junguiana e algumas formas de expressão artísticas ligadas ao corpo podem ajudar na tarefa, mas a compreensão da natureza dessa mulher selvagem, com todas as características de uma loba, é uma prática para ser exercida ao longo de toda a vida.



   Publicado há mais de 20 anos, Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, editora Rocco, tornou-se uma obra de referência no mundo por resgatar, por meio de contos de fadas (originais) e lendas, a mulher selvagem e questionar o lugar da mulher moderna que se tornou uma espécie de ‘animal doméstico’.

“As coisas que estimulam a felicidade e o prazer sempre são também "portas dos fundos" pelas quais podemos ser exploradas ou manipuladas.” 

   A mulher saudável não renega sua natureza instintiva, pois é justamente essa natureza que a fortalece dos perigos que a saqueiam e a perseguem. Tais perigos distorcem a visão da mulher, manipulando suas bases naturais para algo perigoso e pejorativo, reduzindo seu valor. Ou seja, a essência da mulher passa a ser o inimigo a ser combatido por aqueles que não toleram o próprio fluxo da natureza. E para sobreviver, precisamos nos disfarçar amputando nossa criatividade. 



“A Mulher Selvagem carrega consigo os elementos para a cura; traz tudo o que a mulher precisa ser e saber. Ela dispõe do remédio para todos os males. Ela carrega histórias e sonhos, palavras e canções, signos e símbolos. Ela é tanto o veículo quanto o destino”

   Apesar disso, Pinkola não monta um manual de sobrevivência porque quando se trata da natureza psicológica e instintiva, as cartilhas se perdem no poder da imensidão do oceano criativo. Há, entretanto, o começo: o despertar por uma pequena brecha que mantem a mulher selvagem respirando por gerações e gerações

“A Mulher Selvagem é a saúde para todas as mulheres. Sem ela, a psicologia feminina não faz sentido. Essa mulher não-domesticada é o protótipo de mulher... não importa a cultura, a época, a política, ela é sempre a mesma. Seus ciclos mudam, suas representações simbólicas mudam, mas na sua essência ela não muda. Ela é o que é; e é um ser inteiro.”


   Despertar a mulher selvagem é despertar a cura e isso pode ser facilmente acessado, segundo a autora, pelas histórias, ‘Entramos em contato com a natureza selvagem através de perguntas específicas e através do exame de contos de fadas, histórias do folclore, lendas e mitos.’. Ouvir, narrar e preservar as histórias é o alimento para alma

“As histórias são bálsamos medicinais. Achei as histórias interessantes desde que ouvi minha primeira. Elas têm uma força! Não exigem que se faça nada, que se seja nada, que se aja de nenhum modo — basta que prestemos atenção. A cura para qualquer dano ou para resgatar algum impulso psíquico perdido está nas histórias. Elas suscitam interesse, tristeza, perguntas, anseios e compreensões que fazem aflorar o arquétipo, nesse caso o da Mulher Selvagem.”

   Pensando sobre tudo o que foi lido em Mulheres que Correm com os Lobos e outros livros da autora, enquanto escrevo esta pequena resenha, minha alma sangra pelo incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, um símbolo coletivo de cuidado e preservação de nossa história fora destruído e isso causa um profundo impacto na Mulher Selvagem de uma nação. 


“Foi assim que se perderam muitos dos contos femininos que continham instruções sobre o sexo, o amor, o dinheiro, o casamento, o parto, a morte e a transformação. Foi assim que foram arrasados e encobertos os mitos e contos de fadas que explicavam mistérios antiquíssimos das mulheres. Da maioria das coletâneas de contos de fadas e mitos hoje existentes foi expurgado tudo o que fosse escatológico, sexual, perverso, pré-cristão, feminino, iniciático, ou que se relacionasse às deusas; que representasse a cura para vários males psicológicos e que desse orientação para alcançar êxtases espirituais.”

   Mesmo pela dor do luto, pensar no Museu me traz outras perspectivas. Histórias de povos dizimados, humilhados, abandonados, escravizados e que, mesmo assim, mantiveram o sopro da esperança. Judeus, Africanos, Latinos, etc., têm em suas almas a necessidade de ressuscitar as guardiãs das velhas histórias para que, como a "La Loba", a sopradora de ossos, possamos “(...) conclamar os restos psíquicos do espírito da Mulher Selvagem e trazê-la de volta à forma vital com nosso canto.”


Nota:











13 comentários:

  1. Gostei muito desse livro, a autora teve uma excelente ideia de escrever um livro sobre o lugar da mulher moderna na sociedade, com certeza fez e irá fazer várias mulheres começarem a pensar que também podem ter seus lugares no mundo, assim como os homens.
    Bela resenha

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  2. Olá!! :)

    Fiquei curioso com a mensagem que o livro passa, mesmo que não seja o meu género habitual de leitura.

    Sim, o incendio foi a perda de cultura, de memorias de vários povos e especialmente do povo brasileiro!

    Boas leituras!! ;)
    no-conforto-dos-livros.webnode.com

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  3. Olá, amei a resenha! Esse livro é arrebatador e profundo, me faz refletir sobre minha própria existência e meu posicionamento como mulher na sociedade. É incrível em como algumas atitudes que achamos normais na verdade são completamente impostas ao longo do tempo e muitas vezes opressoras.
    As fotas ficaram perfeitas!
    Beijos...

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  4. Vc já recomendou essa autora aqui no blog, não?
    Lembro que li uma resenha há um tempo atrás que despertou meu interesse pela leitura.
    Sua resenha está maravilhosa e completa. Compartilho da mesma dor sobre o Museu Nacional e até agora não consegui aceitar o que aconteceu (acho que nunca conseguiremos, né?). Tanta história perdida =/

    Gostei dos trechos que vc selecionou nesse clássico e sem dúvidas darei uma chance futuramente <3
    Sai da Minha Lente

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  5. Oi Lilian!
    Esse é um livro para as mulheres deixarem sempre a mão. Não sei se concordo com a ideia de que a mulher com o tempo passou a ser um ser "domesticado" porque como a obra é de 20 anos atrás, pra mim é o contrário: Ela era domesticada antes e se tornou selvagem.
    Achei interessante o uso de contos de fadas para trazer ensinamentos.
    Particularmente, só fico com um pé atrás sobre coisas que envolvam trabalhar o lado psicológico, porque eu acho a psique muito delicada e qualquer passo em falso pode gerar muita confusão na mente.
    No mais, gostei da forma que você descreveu o livro e as fotos ficaram lindas! Parabéns!

    http://www.garotasdevorandolivros.com/

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  6. O que aconteceu com o Museu é algo que comove qualquer ser humano, historicamente falando, perdemos muita coisa, que jamais será reparada. Quanto ao livro, eu já o conhecia, li alguns trechos para a faculdade e foi uma experiência bastante fascinante, o modo como a feminilidade é colocado, chega a ser tocante.

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  7. Que bom que o livro não tornou-se um manual, pois acho tão cansativo estes livros que parecem chegar com uma receita pronta para a felicidade, como se todos fossemos iguais. Uma grande perda esta do museu, uma parte da história perdida, por mais um descaso de governantes que insistimos em manter no poder.
    Bjs, Rose

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  8. Olá,

    Essa recomendação é super válida, pois li muitos comentários positivos sobre essa obra, sobretudo no atual estado em que nossa sociedade se encontra. Ainda não tive a oportunidade de fazer essa leitura, porém desejo muito fazer essa leitura.

    Beijos,
    oculoselivrosblog.blogspot.com.br/

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  9. Olá, esse era um título que já tinha ouvido falar algumas vezes mas não me recordava sobre o que era a obra. Acho interessantíssimo isso de falar sobre a mulher fazendo essa ligação com os contos de fadas, bem expressiva essa última citação que colocou no post. É uma leitura que quero fazer.

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  10. Oi, Lilian. Tudo bem?
    Eu sempre me interesso pelas suas indicações, esse livro é mais um que eu tenho a certeza de que seria uma ótima experiência de leitura para mim. Gostei bastante de ver seus comentários sobre a obra.

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  11. Vi recentemente uma nova edição do livro em alguma livraria e a capa me deixou intrigada, portanto foi interessante saber mais sobre o assunto do livro. Acredito que não leria, pelo menos no momento, mas vou deixar a dica anotada. Alguns livros exigem o momento certo pra serem lidos.

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  12. Oi, Paac!
    Faz tempo que vejo esse livro nas livrarias e sempre tive curiosidade. Difícil ler uma resenha sobre ele e nem acredito que li a sua!
    Eu acho que tem tudo para ser uma leitura maravilhosa, sua resenha colocou minhas expectativas nas alturas.
    bjs
    Lucy -Por essas páginas

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  13. Oi Lilian,
    Que livro diferente. Muitas vezes, por dia, me pergunto o papel da mulher na sociedade, já que, como a própria autora ressalta, somos como animais domesticados. Fiquei intrigada para entender como a autora demonstra esse lado selvagem da mulher e como seria libertá-lo.
    Vou anotar a dica de leitura, sem dúvidas.
    Beijos

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