Pelas Mulheres Indígenas


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   Antes de iniciar esta resenha, gostaria de pedir a todas e todos que ajudem na divulgação da obra. Quem desejar saber mais, basta clicar no projeto Pelas Mulheres Indígenas. Vocês mais que ajudarão a divulgar a literatura nacional, contribuirão com o combate ao feminicídio e ajudarão no empoderamento de mulheres.

   Empoderamento, segundo o Dicionário Formal, significa: Conscientização; criação; socialização do poder entre os cidadãos; conquista da condição e da capacidade de participação; inclusão social e exercício da cidadania.

   Empoderamento de mulheres está fortemente ligado a autoestima e ao Poder fazer, a conquista da autonomia. ‘É quando nos libertamos da opressão de gênero e da opressão patriarcal. É assumir o controle sobre os nossos corpos e nossas vidas’, segundo Cecília M.B. Sardenberg. Do ponto de vista da meritocracia, a mulher que é violentada sexualmente, sofre violência física ou psicologia, além de outras agressões, é por merecimento. É importante desmitificar essas falácias diariamente, e a desconstrução dessa ideologia só será materializada, a partir do momento que mulheres forem empoderadas. E no caso das mulheres indígenas, ainda adentra num resgate de valorização e reconhecimento cultural, espiritual e geográfico.

   Quando iniciei a leitura da obra Mulheres Indígenas, tinha noção do que encontraria, mesmo assim, meu coração sangrou. Não contive o choro em cada forte relato de mulheres que sobreviveram para contar suas histórias. E, reconheço a história das muitas mulheres que morreram lutando, para que hoje, outras pudessem falar. Escrever um livro sobre nossas histórias, também é empoderamento.
Cada capítulo conta uma história diferente, são poucas páginas e também intercala com explicações sobre o que é a violência contra mulher. O primeiro capítulo, Eu Consegui, traz a história de Jacialva, mulher indígena, que precisou fugir para outro estado por causa das agressões do marido. Passou fome, mendigou e depois de anos, pode voltar para sua aldeia e reconstruir sua vida. 

 “Depois que tivemos o terceiro filho, ele se tornou violento e começou a me agredir.”

   O capítulo Vida Renovada mostra a entrevista de Zenaide Karapotó Plaki-ô, que foi abandonada pelo marido e passou fome e finaliza com uma Cartilha Contra Violência e Os tipos de Violência contra a mulher.



   E as páginas vão intercalando entre várias vozes femininas e histórias diferentes, que se encontram em relatos emocionantes, triste e cruéis. O capítulo O Fogo de 51 me deixou extremamente perturbada. Isso, por recordar, de certa maneira, a história das mulheres da minha família, deixo aqui, um trecho para melhor compreensão.

 ‘Foi uma coisa muito horrível para as mulheres indígenas... Houve muito estupro, até de índias grávidas e de mulheres em resguardo. Os policiais usaram elas. Judiaram delas. As nossas mulher foram muito humilhadas. Amarraram seus maridos perto delas enquanto eram usadas. Tem mulher que ainda hoje se sente envergonhada. Nós, mulheres, somos muito sofridas. Ainda hoje passa muito essa coisa de estupro. Foi lá que começou essa violência que ainda existe contra nós, mulher indígena. Quando a polícia chega nas nossas áreas é com muita agressão, agressão contra as mulheres e contra as crianças também. Agressão verbal e física.’

   Mesmo diante de tanta agressão e humilhação, Maria Braz sobreviveu para relatar essa barbárie.  Muitas sobreviveram, a avó de minha avó, mulher índia, foi arrastada pelo cabelo, por um cachorro, num dia de caça, por homens brancos e cristões, violentada sexualmente mantida trancafiada numa casa para servir ao seu ‘marido’. A realidade atual não é muito diferente, a morte de muitos índios continua seguindo sem o olhar rigoroso da justiça, mas ele é ‘cega’, então justifica muita coisa...
Existe também a luta de mulheres que ficavam em casa cuidando dos filhos e trabalhando enquanto os maridos lutavam para conseguir reaver as terras roubadas pelos homens brancos.

 “Tinha que procurar um jeito para me virar porque foi na época em que meu marido viajava muito para conseguir a retomada das terras Karapotó Plaki-ô, e saía sem deixar o alimento. Então, a única saída era eu trabalhar no plantio do arroz, fazer pote e sair para vender ou trocar por alimentos como farinha, feijão... Nós caminhávamos quilômetros de distância com os potes na cabeça e, quando eu chegava em casa, encontrava meus 12 filhos dormindo.”


   O povo Karapotó Plaki-ô, do estado de alagoas, conseguiu reconquistar suas Terras, mas lutaram muito para serem reconhecidos como indígenas. Imagine como maçante é para o índio ter que provar que é índio... sem deixar que os rituais morram.

 ‘Hoje, posso dizer que sou uma mulher batalhadora, guerreira e vencedora. Estou feliz vendo a minha família crescer a cada dia. Meus filhos estão todos casados e hoje tenho 35 netos e um bisneto. Meu sonho já se realizou, pois minha família está unida e com saúde’

   Infelizmente, ainda falta a compreensão a muitos brasileiros que a tradicional família brasileira é a indígena e existe uma dívida gigantesca do homem branco para com a comunidade indígena. Essa dívida tem mais de quinhentos anos e só cresce.



   Mas não acaba por aí, é também preciso políticas para saúde da mulher indígena, que respeite sua cultura e crença. Atendimento diferenciado e humano, o fim da violência obstetrícia. É preciso acabar com o preconceito que a comunidade indígena sofre em sua própria terra. Há quinhentos anos, o holocausto está instalado em nossas terras contra o povo indígena e não dá mais para silenciar. O livro, em suas poucas páginas, expõe histórias como a da Pajé; a de Mayá Pataxó Hãhãhãe que descreve o ritual do plantio saudável; a cacique do povo Tupinambá, Jamopoty. As Mulheres Guerreiras.

 ‘Nós, mulheres, fomos fundamentais na retomada Pataxó Hãhãhãe. O que nós enfrentamos aqui foi uma guerra. Na reconquista da nossa terra, nós saíamos de nossas casas para o que der e vier. Quando a gente vai para uma retomada, a gente não sabe se volta. A gente vai arriscando a vida.’

   São poucas páginas com muitas emoções, organizada pela própria comunidade indígena, nada de homem branco fazendo livro e/ou documentário e ganhando dinheiro às custas da cultura e da história desse povo. Enfim, é um livro sobre empoderamento da mulher indígena, com belas imagens, muitas histórias, cultura, luta e protagonismo.






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