O Ano do Dilúvio, por Margaret Atwood


Nome: O Ano do Dilúvio
Autor (a): Margaret Atwood
Série: MaddAddão #2
Editora: Rocco
Ano: 2018
Páginas: 472

Sinopse: Pensamentos uniformes, comportamentos programados, regimes de exceção, controle social, experiências genéticas e a luta por uma sobrevivência cada vez mais em risco pelo desrespeito à natureza estão em O ano do dilúvio, romance pós-apocalíptico da canadense Margaret Atwood. Se todos os elementos de uma distopia estão encadeados na surpreendente trama criada pela celebrada autora de O conto da aia, o futuro em que a história se situa não parece tão distante da atualidade. O ano do dilúvio é o segundo de uma trilogia que começa com Oryx e Crake e se encerra com MaddAddão, e retorna às livrarias com novo projeto gráfico de capa. O livro se inicia no Ano 25, o Ano do Dilúvio Seco, termo com que os personagens se referem à epidemia que matou muitas pessoas. Não há descrição sobre o tipo de doença, sabe-se apenas que um de seus sintomas é a tosse. Os sobreviventes estão divididos entre os que preferem o mundo de prazeres artificiais, no qual os shopping centers e os spas voltados para a estética são reverenciados como templos, e os que buscam um retorno à vida naturalista. Concorrendo na conquista desses sobreviventes, estão a seita ecológico-religiosa dos Jardineiros e corporações como a CorpseCorps, que detém o conhecimento científico e tecnológico e se esforça para manter o controle de toda a sociedade. Dois personagens, Toby e Ren, dão pistas do desastre: um mundo dividido entre os ricos moradores dos condomínios artificiais que trabalham com biogenética; miseráveis e imigrantes, que vivem nas ruas da Plebelândia; e ecofanáticos, que lutam contra experiências genéticas e o consumismo desenfreado. A degradação, o temor e o instinto de sobrevivência caminham juntos no cenário de desesperança traçado por Margaret Atwood em O ano do dilúvio. Nesta trama perturbadora, sombria e extremamente atual que reflete sobre a ilimitada capacidade humana para dizimar sua própria espécie, há espaço, porém, para valores como a lealdade, o afeto e a amizade.




   Após o enigmático Oryx e Crake, Margaret continua a saga da extinção humana em o Ano do Dilúvio. Com capítulos alternados entre duas protagonistas femininas, easter eggs do livro anterior e muita ficção especulativa, a autora narra com maestria esse futuro distópico que cada dia parece mais próximo.

“Amanda me chamou de romântica. Ela disse que o amor é inútil porque leva a trocas estúpidas, que nos faz desistir de muitas coisas e depois nos torna amargos e maus.”

   O mundo onde vivem Toby e Ren é comandado pelas grandes corporações, megagrupos empresarias que monopolizam diversos setores da sociedade e mantêm um controle contínuo no governo. Todo avanço científico parece surgir de uma maneira duvidosa, onde o maior objetivo é o lucro e a permanência das instituições. É como forma de resistência a essa sociedade estratificada que o grupo religioso Jardineiros de Deus sobrevive. Os Jardineiros vivem como alienígenas nesse universo. Recusando o consumismo, procuraram seguir os preceitos veganos e sobreviver escondidos nos subúrbios da cidade. A Plebelândia, como é chamada no livro, é composta pela área exterior aos complexos empresariais, uma grande terra de ninguém onde sobrevive o mais forte. Na plebe vivem os latinos, os refugiados, os pobres e todas aqueles que sobrevivem na ilegalidade (mesmo que sua ilegalidade seja patrocinada pelas megacorporações).

      O futuro imaginado por Margaret Atwood pode parecer à primeira vista deveras absurdo, mas olhando com cuidado, percebemos que tudo possui raízes bem profundas no presente. Seja o extremismo religioso, a precarização do trabalho ou até o envolvimento obscuro de empresas nas eleições de governos de extrema direita, Margaret consegue captar o zeitgeist do momento e transplantá-lo para seu romance. Com um pouco de pessimismo, a pandemia que dizima a população humana pode estar bem próxima. Com o negacionismo do aquecimento global, a descrença nas instituições e cada vez mais o apego pelo privado, um mundo corporativizado também é possível.

Nós estamos destruindo a Terra. Ela já está quase destruída. Não se pode viver com esses medos e continuar assoviando. A espera cresce em você como uma onda. Você começa a querer que tudo aconteça. E se vê dizendo para o céu: faça logo. Faça o pior. Acabe logo com isso.

   O livro é extremamente interessante, principalmente com uma leitura que se propõe dialogar com o presente, acredito que essa seja a principal característica das obras da Margaret, como também o motivo da autora ser tão querida e aclamada. Margaret consegue ser atual, seus livros conduzem para reflexões importantes de serem feitas, como dito em O Conto de Aia, nenhum direito conquistado é certo, é com muita luta e resistência que a sociedade avança, caso contrário, o retrocesso está esperando na esquina disposto a levar tudo que conquistamos em troca do benefício de uma parcela ínfima da população. Achar que o niilismo é a única saída também não resolve nada, é pensando assim que Crake extermina a raça humana. A solução, pelo menos no romance, está em resistir e lutar pela sobrevivência, mesmo que tudo nos arraste para o fim.







3 comentários:

  1. Oi Beatriz!!

    Essa mulher é fantástica não é mesmo? Acho incrível como seus livros contam histórias distópicas e ao mesmo tempo soa tão atual e conectado com nossa realidade, não tinha conhecimento dessa serie dela,mas livros da autora para por na lista de leitura. Adorei a premissa do livro, ainda que ela assuste um pouco kkkkkkk

    Beijos!
    Eita Já Li

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  2. Oi, sou super curiosa para ler algo da autora, esse livro eu ainda não conhecia. Me parece interessante como ela cria tramas distópicas com base em coisas que, infelizmente, existem nos dias de hoje.

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  3. Um dos meus objetivos ano que vem é ler mais obras da autora.
    E este livro está na topo da lista. Adorei sua resenha

    Sai da Minha Lente

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