
Nome: Maddaddão
Autor (a): Margaret Atwood
Série: Maddaddão #3
Editora: Rocco
Ano: 2019
Páginas: 448
Skoob: Adicione
Sinopse: MaddAddão é o terceiro e último volume da série iniciada com Orix e Crake e adensada em O Ano do Dilúvio. Estruturalmente, o romance é similar aos anteriores, alternando entre um mundo pós-catástrofe e as circunstâncias que levaram as coisas àquele degringolamento. À luz de seu capítulo final, a trilogia de Margaret Atwood pode ser lida como um épico de devastação e possível reconstrução, quando, pelas vias mais tortuosas e traumáticas possíveis, os sobreviventes acabam por ensaiar uma conexão mais saudável uns com os outros e com o ambiente ao redor – ou o que restou dele.
Finalmente temos a conclusão da ecodistopia de Margaret Atwood. A trilogia que se iniciou com Oryx e Crake começa imediatamente após o final de O Ano do Dilúvio. Temos uma ceia entre Toby, Ren, Amanda e Jimmy enquanto os fugitivos da Painball se encontram amarrados. Infelizmente, o ato de piedade de Toby traz consigo consequências terríveis, após os Crakers chegarem ao local da ceia e libertarem os prisioneiros a vida de todos está em risco. Enquanto os Jardineiros de Deus e os Maddamitas lutam para sobreviver, Toby se entrega a função de proteger o febril Jimmy e os frágeis Crakers.
“O que é uma cicatriz Toby? Seria a pergunta seguinte. Ela então teria que explicar o que é uma cicatriz. Uma cicatriz é como uma escrita no seu corpo. Fala de alguma coisa que já aconteceu com você, como um corte na sua pele de onde saiu sangue.”
A grande voz na conclusão da trilogia de Atwood é Toby. É a partir dela que conhecemos a história de Zeb, Adão e do grupo ecoativista MaddAddão. Ela também assume para si a função de cuidar dos filhos de Crake, são os capítulos em que ela narra a história do mundo para eles os mais divertidos. É curioso como a autora conseguiu incluir um pouco de humor nessa história tão pessimista. Se antes tínhamos uma visão bem vexatória dos seres criados por Crake, muito por conta das narrações perpetradas por Jimmy, a partir dos olhos de Toby vemos que são criaturas cruas e doces, incapazes de entender o que é o mal. Toby tenta incutir neles alguma malícia, se ela teve êxito só o tempo irá dizer. Fica também nos Crakers a grande ironia de toda a saga. Se Crake queria criar seres que não fossem capazes de possuir cultura, vínculos profundos e formar uma sociedade, ele fracassou. Os Crakers constroem sua própria mitologia e são ávidos por saber, e cabe a Toby, depois a Barba Negra, carregar para a posterioridade essa grande história.

Considero a trilogia de MaddAddão a distopia mais atual que li, estamos acostumados com uma distopia clássica, criada em um período que não corrobora com nosso mundo globalizado e os avanços advindos da internet. Originalmente publicada em 2003 e concluída em 2013, a saga de Margaret Atwood conversa com todas as questões atuais, mostrando mais uma vez a eficiência da autora na sua ficção especulativa. Margaret é capaz de ler o mundo, juntar as peças e nos entregar uma história que podia muito bem se tornar realidade. O mundo de Atwood é incrivelmente consumista, utilitarista, a segurança é controlada pelas empresas privadas, o mundo, pelas grandes corporações. Quando olhamos o poder de empresas como Google, Facebook e Amazon não é difícil imaginar essa realidade. Com tão pouco em suas mãos, o Facebook foi capaz de interferir nas eleições de diversos países, inclusive no Brasil. A Amazon se torna maior a cada dia, destruindo livrarias e pequenos negócios. O Google possui os dados de bilhões de pessoas no planeta e não vê problema algum em vendê-los para terceiros (ou utilizá-los para controlar o que você pensa). Se a distopia de Margaret retrata esses fatos? Claro. Em MaddAddão vemos que as megacorporações controlam os governos e o que é ou não dito na mídia. E há também uma menção de hackers invadindo urnas eletrônicas pelo mundo. A sede dessa rede? O Rio de Janeiro. Podemos continuar com as questões ecológicas que levaram o mundo a essa situação distópica e posteriormente ao apocalipse. Há a extinção em massa de animais, o aumento do nível do mar, o fim dos biomas, a poluição dos mares, e o mercúrio, a chuva ácida, a infertilidade dos solos levando ao aumento do preço dos alimentos. Eu poderia continuar a lista por mais vários parágrafos, mas não importa o que é dito no livro, a ficção se choca com o nosso mundo. Nada é mentira. Esse apocalipse ecológico está a dois passos de distância, se os governos não tomarem medidas, cidades inteiras desaparecerão.

Muito do que vimos nos livros anteriores passa a fazer mais sentido ao lermos MaddAddão. Acredito que isso ocorre porque as várias pontas soltas se escondem em Zeb, Adão e seus grupos de resistência. A oposição ideológica entre os dois irmãos também é central. Zeb e Adão são uma espécie de Caim e Abel. Mesmo que no final se amem, eles têm visões completamente opostas de como salvar o mundo. Adão acredita na revolução pacifica e Zeb na revolução ativa. Triste ver que, no fim, quem orquestra um plano do extermínio humano é Crake.
“Faz tempo que esperava isso, e já tinha desistido de esperar. Ansiava por isso e chegou a negar que fosse possível. Mas agora é fácil. Assim como antes era fácil voltar ao lar para quem tinha lar, cruzar a porta para um lugar familiar, um lugar que conhece você e que se abre, que permite que você entre. Um lugar que contava histórias que você precisava ouvir. Histórias das mãos e também da boca. Senti sua falta. Quem disse isso? Uma sombra na janela da noite, o brilho de um olho. Um batimento cardíaco sombrio. Sim. Enfim. É você”
Só com a leitura que você compreenderá a magnitude e a polifonia narrativa de Margaret Atwood. Tentei fazer uma resenha sem spoilers, ou dizendo o mínimo de forma a não atrapalhar essa experiência. Fazia muito tempo que não encontrava uma distopia que mexesse comigo da forma que 1984 mexeu. Acho que a essa altura posso dizer com a boca cheia que essa é minha autora favorita. Agora que os livros chegaram ao fim, me resta esperar pela adaptação. Os direitos autorais foram adquiridos no início de 2018, com sorte não irá demorar para vermos essa série. Pelo menos o timing é perfeito.

Olá, tudo bem? Não conhecia a trilogia e, para ser sincera, não faz muito o meu estilo de leitura, mas para quem curte parecem ser livros ótimos. Adorei a resenha!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Olá, tudo bem?
ResponderExcluireu tenho muita vontade de ler essa trilogia e pela sua resenha ela parece ser bastante interesse. Preciso ter essa experiência literária e espero que seja este ano. Muito obrigada dica e parabéns pela resenha.
Bjos
ai eu tenho muita vontade de ler esses livros, mas ainda não criei vergonha na cara.
ResponderExcluirConhecendo um pouco da Margaret, acho que vou ficar reflexiva e entrar numa ressaca literária tremenda, igual quando eu li os dois livros do O Conto da Aia kkkkk
Já coloquei no meu carrinho e espero gostar da leitura, amei tua critica!!
Essa autora está sendo bastante citada na maioria das resenhas que estou lendo e me interessei para ler suas obras, amei sua resenha!
ResponderExcluirEu pretendo ler o primeiro livro esse ano. Gostei tanto da ambientação e a proposta da autora. Preciso dessa distopia urgente <3
ResponderExcluirSai da Minha Lente
Que resenha maravilhosa. Li apenas u livro da autor, mas pretendo ter em mãos todo o seu trabalho como escritora porque o pouco que li, apreciei muito.
ResponderExcluirAinda não conhecia esse livro e também não sabia que era uma trilogia (as capas são lindíssimas, né?). O fato de ser uma distopia e ela condizer muito com a nossa realidade, foi o que mais me chamou atenção e me deixou curiosa para ler. Vou anotar essa dica.
ResponderExcluirBeijos,
Blog PS Amo Leitura