Ao no Flag e a representatividade LGBT


Nome(s) Alternativo(s): Blue Flag  | 青のフラッグ
Status: Ativo
Autor: KAITO
Categoria(s):  Romance, Shounen, Vida Escolar
Skoob: Adicione
Ano de lançamento: 2017
Leia em Português: Manga Livre | 

Sinopse: Uma "pura história de amor" nasce quando três estudantes no seu terceiro e último ano do ensino médio se encontram em uma época que eles estão preocupados sobre seus caminhos para o futuro. Dias agradáveis, dolorosos e apaixonantes os esperam.


   A primeira vez que ouvi falar de Ao no Flag foi em 2019. Achei uma recomendação válida, coloquei na minha imensa lista de "mangás para ler" e segui com a vida. Alguns meses depois o mangá chegou ao fim. Junto com o final, pipocaram resenhas de vários leitores indicando o quadrinho, depois da quinquagésima recomendação resolvi que iria ler. Entre resolver e começar a ler Ao no Flag foram mais alguns dias, nesse ínterim uma resenha deu um nó na minha cabeça: “se querem um bom mangá com representatividade lgbt leiam Ao no Flag”. Ué, mas esse não era um mangá da Shonen Jump???



   Para entender o porquê da minha confusão e a importância desse título vamos precisar recapitular algumas coisas. Mangás shounen pertencem a uma demografia bem específica, são obras voltadas para o público masculino, principalmente para adolescentes e jovens adultos. O maior exponencial dessa demografia é a Shounen Jump, a revista queridinha dos amantes do gênero “mangá de lutinha” e que ajudou a definir o que é o shonen no ocidente. A Jump é a casa de vários sucessos como Naruto, One Piece, Slam Dunk, Dragon Ball, Kimetsu no Yaba, Death Note, e isso são só alguns exemplos do que a revista acumula desde o início de sua publicação. Quando as pessoas falam em mangá, a primeira coisa em que elas pensam é na Shonen Jump, mesmo que não saibam quem é a revista, em sua cabeça irão brotar a imagens do Naruto ou do Goku. As obras da Jump sempre possuem certas características, como valorizar os ideais de amizade e trabalho em equipe, ao longo dos anos a Jump vem recebendo várias críticas, principalmente ligadas à representatividade em seus quadrinhos e o excesso de fetichização feminina. Para se adequar aos leitores, que se tornam cada vez mais críticos e exigentes, a revista começou a buscar alternativas, os peitos enormes saltando na tela continuam em alguns títulos, mas já há exemplos de quadrinhos protagonizados por mulheres, como é o caso de The Promised Neverland, e há inesperadas surpresas, como é o caso de Ao no Flag.



   Quando a revista lançou sua plataforma online, a Jump+, um novo veículo que permitia obras mais corajosas sob o selo da Jump surgiu. Foi nesse espaço que Ao no Flag, ou Blue Flag no ocidente, foi lançado. O mangá escrito por Kaito, mangaká ao qual não temos nenhuma informação além do nome, começou a sua publicação em 2017 e terminou em 2020. Com uma média de 8,2 no mangaupdates, o quadrinho foi um sucesso de crítica e público, mas acabou passando incólume pela grande parte dos leitores no ocidente.  Ao no Flag conta a história de Taichi, Touma, Futaba e Masumi. Taichi é o típico adolescente perdido na vida, não tem muitos amigos, não tem namorada, não costuma sair, adora jogar videogame e não faz a menor ideia do que fazer da vida após o fim do ensino médio. Apesar de dizer-se um completo solitário, Taichi é amigo de infância de Touma, seu total oposto. Astro do time de baseball, popular, adorado por todo mundo, sempre alegre e sorridente, é justamente a popularidade que afasta os dois amigos. No último ano da escola, ao acabarem na mesma turma, os dois se aproximam graças a Futaba Kuze, uma menina tímida e excluída da turma que pede ajuda a Taichi para se aproximar de Touma, por quem ela nutre uma paixão. Ao ficar amigo de Kuze, Taichi acaba sendo obrigado a lidar com sua melhor amiga, a protetora Masumi. Esse improvável quarteto é que vai ditar o rumo da história que fala sobre vida adulta, sonhos, família, preconceito e aceitação. Em meio a muita comédia, triângulo amoroso, drama e reflexão, é até difícil de imaginar que uma história dessas está saindo na maior publicação shonen do mercado japonês. Não é só representatividade LGBT, advinda de personagens homossexuais e bissexuais, que Blue Flag traz, o mangá também possui discussões sobre machismo e preconceito. Como é a forma certa de uma mulher se portar? É possível uma amizade entre homens e mulheres? Mulheres são seres diferentes? Não aceitar uma pessoa homossexual é liberdade de expressão? É errado gostar de alguém do mesmo sexo? Qual a maneira certa de se viver? É errado ser diferente? São tantos questionamentos trazidos pela obra que mal cabem em uma resenha. 



   Kaito está de parabéns por trazer tantos assuntos delicados para uma revista consumida principalmente por um público masculino jovem. É a prova de que o mundo está mudando e se tornando, aos poucos, um lugar mais aberto para as minorias. Ao no Flag tocou profundamente meu coração e acumula quatro releituras até esse momento, uma prova do quanto eu amei essa história e todos os seus personagens. Leitura muito recomendada, mas compre uma caixinha de lenços antes porque você vai precisar








10 comentários:

  1. Olha, gostei demais da sua resenha. Li e leio poucos mangás, mas sempre que me deparei com shounens eles acabam sendo muito voltados pra uma masculinidade que não acolhe o público LGBTQI+. É bacana saber que esse espaço está sendo conquistado.

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  2. Adorei sua resenha, ela faz um apanhado para quem não conhece bem o gênero, como eu. Nunca li um mangá, mas tenho sentido vontade de me aventurar, e esse parece uma delícia para uma primeira experiência. Vou guardar a dica com certeza!

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  3. Que resenha ótima e completa! Confesso que não tenho o hábito de leitura de mangás, então tudo soa um pouco estranho pra mim. Mas achei tudo que vc explicou bem interessante, ainda mais pela abordagem de tantos temas importantes e representativos nessa edição. Chamou minha atenção!

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  4. Oioi! Já tinha ouvido falar de Ao no Flag, mas só por alto. Não sou grande fã de mangás, então não está entre as primeiras leituras que procuro. No entanto, gosto muito dessas histórias com uma pegada mais "slice of life", principalmente uma que aborde tantos pontos importantes, então, mesmo sendo shounen, acho que vou dar uma chance. Abs!

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  5. Sou apaixonada por leitura se yaoi, nao me julgue kkkk, mas em geral eu adoro ver anime e ler mangá, e ver que está tendo uma maior representatividade é muito bom.

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  6. Eu já tinha visto outras pessoas comentando sobre Flag, mas essa é a primeira vez que paro para ler mais sobre pra saber do que se trata. É importante trazer essa representatividade dessa realidade de muitos estudantes do último ano do ensino médio e todas as preocupações com o futuro. Incerto, muitas vezes. É difícil essa escolha de saber qual caminho traçar. Enfim, tenho uma irmã que curti muito mangás e que gostará muito ler! Vou indicar!

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  7. Eu to amando ler mangas ultimamente é esse em específico me chamou muito a atenção, já no adicionar na minha lista de leituras! É o tipo de leitura que estou buscando agora.

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  8. Oi, tudo bem? Ah, acredita que nunca li algo do gênero? Acho interessante quando alguns colegas indicam e elogiam. Me sinto inclinada em ler e saber porque são tão elogiados. Também gostei do autor trazer tantos assuntos diferentes, acredito que isso permite discussões bem construtivas. Um abraço, Érika =^.^=

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  9. Oi, Bia. Nao sabia desse manga, realmente não esperava ser algo publicado pela Jump, mas achei demais daora ver que eles estão percorrendo outros nichos a fim de trazer representatividade.
    Espero ter a chance de ler algum dia.
    Küss 😘

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  10. oiiii
    Amei sua resenha
    Voce fez um texto explicando tao bem o tema que mesmo nunca tendo lido lendo um manga na vida consegui entender o tema e a historia

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